quarta-feira, 16 de abril de 2014

Memorial do Convento

Memorial do Convento


Penso que [Memorial do Convento] reflete o povo que somos e as preocupações que ainda temos.

Atraiu-me na história do convento de Mafra o esforço e o sacrifício dos milhares de homens que trabalharam na construção de monumentos à vaidade de um rei e ao poder da Igreja.                                                                                                                                                                 José Saramago

segunda-feira, 10 de março de 2014

Proposta de correção do trabalho de casa

Manual, página 183

1. Comparação entre o poema "Horizonte" e as estâncias de Os Lusíadas

No poema "Horizonte", é o sonho de concretizar um ideal que move os navegadores: descobrir o mundo para além da "abstrata linha" e as consequências da realização desse sonho são apresentadas sob uma linguagem simbólica resumindo-se no vocábulo Verdade - acesso ao conhecimento. O ser humano é animado pelo sonho e por ele glorifica a sua existência. O prémio é, então, o conhecimento da Verdade.
Nas estâncias de Os Lusíadas, a aventura dos navegadores portugueses tem uma dimensão humanista-renascentista - o Homem acedeu ao conhecimento do "húmido elemento" e aos segredos da natureza, através de trabalhos difíceis. Assim, a Pátria é glorificada e imortalizada. O prémio é a imortalização do povo português. A linguagem é épica, referenciando os deuses da Antiguidade Clássica.

2. Justificar a localização do poema "Horizonte" na estrutura de Mensagem.

A segunda parte de Mensagem, Mar Português, tem como tema a descoberta do mar ignorado, representando-se, assim, a vitória da determinação e da ousadia sobre a ignorância. O mar, símbolo simultaneamente da vida e da morte, assume pois, aqui, uma importância determinante, através da descrição feita por Pessoa das aventuras grandiosas, mas também muito dolorosas, que os portugueses sofreram, das quais saíram vencedores, o que lhes possibilitou a "posse dos mares" - Possessio Maris -  e assim construir o Império português. O poema "Horizonte" é o segundo desta segunda parte: logo após exaltar as novas descobertas marítimas, em "Infante", o poeta desvenda alguns segredos do sonho que os portugueses pretenderam atingir, os medos que venceram e os prémios que alcançaram.

sábado, 1 de março de 2014

Prece, Fernando Pessoa

Tal como referi na aula, deixo-vos o poema "Prece" de Mensagem, brevemente comentado.

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
 
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
 
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa! 
Mensagem, Parte II "Mar Portugês"


Poema que encerra a segunda parte da obra pessoana e em que se reflete sobre o presente à luz do passado: o passado foi a tormenta, a vontade, deixando como herança, "o mar universal e a saudade". O presente, por seu lado, é, como diz Camões, de "austera, apagada e vil tristeza" (Os Lusíadas, X, 145),  Pessoa, evocando Deus, diz "Senhor, a noite veio e a alma é vil". Mas na 2.ª quadra afirma que há lugar para a esperança: "Mas a chama, que a vida em nós criou, / Se ainda há vida ainda não é finda". Estará, porventura, escondida nas cinzas, mas pode ser erguida pela mão do vento. Por isso, a prece: que Deus volte a querer dar o "sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia - ", capaz de nos reerguer, para que "outra vez conquistemos a Distância /Do mar ou outra, mas que seja nossa!"
Mensagem pretende que voltemos a ter fé em nós e voltemos a criar Obra que nos redima, em definitivo da "vil tristeza" que ensombrava já o tempo de Camões e que, em Os Lusíadas, dava sentido ao apelo final a D. Sedbastião para qued partisse, fosse grande e desse "matéria a nunca ouvido Canto".




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Algumas informações importantes


... sobre o contexto de produção da Mensagem 

Os séculos ulteriores aos Os Lusíadas foram difíceis para o nosso país. Portugal foi, gradualmente, perdendo o seu Império e as suas riquezas. No século XIX, a situação agravou-se. Sofremos as invasões napoleónicas, ficámos subjugados ao poderio inglês, o nosso atraso em relação aos colossos da Europa imperialista era cada vez maior. No plano interno, a hipocrisia de uma sociedade movida pela ganância, retratada em Os Maias, de Eça de Queirós. O governo monárquico caiu em descrédito e com o Ultimatum inglês (1891) o orgulho nacional humilhado. A Geração de 70 dava-se por vencida. Os feitos gloriosos de 300 anos antes pareciam bem longe da realidade portuguesa do início do século XX.
É neste contexto sócio-histórico que Fernando Pessoa escreve a Mensagem. Embora a sua grandeza como obra a torne intemporal, a circunstância cronológica em que foi escrita aumenta a importância do seu conteúdo. Com efeito, o elogio tecido por Pessoa à ambição dos portugueses em partir à conquista de novos mundos constituirá como que uma regeneração do orgulho português, que estava a passar por uma crise de identidade. Daí a ênfase dada pelo poeta na recriação do mito, na virtude de ser português. Pessoa eleva a insatisfação de alma como a maior virtude dos conquistadores portugueses e assume que tem como pretensão mitificar esse espírito português: “Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da Humanidade”.
A ideia de um livro com poemas de inspiração nacional terá surgido durante a época sidonista (período de governação de Sidónio Pais), em 1917-18.
A personificação desse mito é D. Sebastião. O poeta considera-o um “louco, mas não na acepção negativa que lhe damos, antes com uma conotação, superior, de alguém que é louco “porque quis grandeza / Qual a sorte não dá”. Para Pessoa a loucura é exactamente aquilo que dá ao homem a razão para existir, traduz-se na significância que só alguns conseguem adquirir, sob pena de se tornarem meros seres irrelevantes, caminhando comodamente para a morte: “Minha loucura, outros que me a tomem / Com o que nela ia. / Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”. Mas D. Sebastião não é um mero cadáver adiado. É o chefe dos bravos, o arquétipo (modelo) do português ambicioso que quer conquistar novas terras para engrandecer a Nação: “Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo como um nome, ato o pendão / Do Império”, lê-se em “A Última Nau”, poema de Mensagem (2.ªparte - “Mar Português”).

(adaptado)